domingo, 10 de junho de 2012

O Homem.

O homem de fome passeava livremente com seu cachorro. Cachorro!
Homem paspalho de mãos bárbaras e pés calçados de concreto e de pouco teto. Dentes quebradiços do espelho alfa, se rompeu, se quebrou e apodrece sem pedir licença, por tempo.
Tempo, termo, temperatura e nada quase pouca nula ternura.
Esse homem é inocente, cheio de indolente, de olhos carentes e mínimos, brancos e ensanguentados. Olhou  e a visão ardeu e perdeu a beleza, nasce a pobreza, sem sobremesa, grandiosa. Possuidora.
Velho homem e seu cachorro. Companheiros de bueiro!
Senhor Homem comendo o chão, comendo a lama e devorando o asfalto. Homem vazio sentinte de perigo. Estralhaça a embalagem do capital, mergulha por entre os dentes e surpreende a língua, gozante do sabor apresentado. O Homem se representa, mas não se orienta.
Se morde e é canibal. Come suas mãos, seus pés, seus órgãos, tudo em devaneio, tudo o mês inteiro. E O Homem se deita, se geme e não se quer ser O Homem.
O Homem sabe que é problema. Verme urbano que brotou, brotado do mato, do espaço ou da favela. Não. Favela não. Periferia. Alegria do povo pobre, pobre povo oprimido, proibido do castigo, povo castigo do mundo, povo sem alívio, irmãos do Homem, seu caro amigo.
Pré-Histórico Homem, sobrevivente da terra revolução. Tesouro maldito de uma outra era. O Homem e seu Cachorro. Cachorro do Homem que não sabe aonde vai, se vai, se chega, se rouba ou se cheira. Cheira seus braços, as palmas da mão, cheira pó, cheira flor, cheira a rua esgotante do esgoto. Lugar onde brotavive, se permite, se delira e dorme sem dormir. Sem sonhar.
Ama. Quer amar! Ama seu país e seus slogans modernos, suas promessas, seus remédios livres e sua orgia exposta em todo e qualquer beco. A orgia move, faz nascer verdinhas através de orgias.
"Orgia é boa, viva a orgia. O Homem. A Mulher. Os Pequenos. Todos para o Sexo, sinta sem Nexo"
Vida é inconstante e não se chama vida, para tal nada é por acaso, tudo é pensado, é estratégia de boca de sapo, e é preguiçoso, se espreguiça. Preguiça Social. Trabalhador de golear, se nada rolar, por que não golear?
E se um prato alimentar hoje, do que amanhã virá? Sem pensar, não se pode pensar. A surpresa é repentina, um presente de gregos e de homens pequenos. Mas será bom, uma pratinha compra um dente, somente um dente é pra ser feliz, nada, nada mais.
A dor caçoa do Homem. Mas a dor mata o seu Cachorro, que alvoroço! Se o Cachorro morre o homem não terá amigos, o Homem morrerá, pobre. Ele ressuscitará, assim como a sua crença, ele também pode ressuscitar, ser herói e será famoso. O Homem é foto, fotografia de outdoor social, de comoção para lágrimas de sal, de crocodilos. Temem o país e o Problema Homem!
Quase tudo é conversa de bar, desabafo sem cessar, blá, blé, bló, blu, goles e mais goles de louras geladas, de morenas quentes, de cancerianas calvas, ou de mexicanas selvagens. Tudo se bebe, mas para passar a dor do homem, senão ele não trabalha, não maquina, não é espantalho.
Aliás, o Homem é espantalho. Abriga olhos passageiros, pombos corriqueiros, governantes travesseiros. É obra de arte genial. Gênio, grande por ser somente andarino.
De tanto andar o pé dói, crosteia e não caminhará mais. A estrada é longa e as pedras são quase invisíveis, mas são formadoras de opinião, de todo o colapso cotidiano.
O Homem é poeta. Ninguém compreende o que ele diz. É neologista. É pensante. De muita pouca maldade, de inúmeras viagens, de imensa cor, cor preta, cor marrom. Corpo nu de escultura diária.
Se o Homem morre,
Morre o país
Cai o nobre
Sobra pó, e toda a vida se desfaz do nó.
Grande criação bocó!

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