domingo, 2 de junho de 2013

Palma da Mão

Como uma lagarta contorcendo-se num beco úmido e escuro
Assim como sou
Sem idade
A flor da pele
Transformando o mais vil romance  no mais épico acontecimento de amor
A mais incerta criação na criatura inestimável.
O amor nada me perguntou
A paixão reergueu-se e clamou pela palma da minha mão quente e suada
para apalpar seu rosto
apertar forte sua palma
remexer seus cabelos como ondas que vão.
Não pude fugir
Sem reza fui homem
Fui mulher poetizando cada gesto seu
Na cama
No paraíso
na conversa cotidiana jogada no jogo.
Olhou concretamente em meus olhos como se eu fosse um anjo sexuado
Mas, secretamente, assexuado ante ao seu lirismo
ao seu suspiro.
Imóvel como céu consciente da habitação desta nova estrela
Repousei
Sem dormir
Sonhei de olhos abertos com o seu despertar
sem a hora
sem o dia.
Desencorajei-me
Entreguei-lhe o corpo sabendo da despedida.
Uma respiração
Um adeus.

sábado, 1 de junho de 2013

Água

Água é dama. Imensidão sobre si própria. Lágrimas infinitas e inesgotáveis de todos os viventes.
Água afoga e banha, mistura e recicla, evita e inunda, transforma e cria. Águas poéticas de outros mundos, de seres temporais e poetas. Fonte de toda luz, de todo o banho e sal do dorso, do projeto de vivência.
Cristalinas e infantis, brincam e gozam sem temer a nada, nem aos criadores, nem aos mau feitores. Grandiosa de toda fúria, quer arrebentar, arrebenta, quer chorar inunda, quer amar, golpeia, quer carinhar, aproxima-se tímida, como quem não quer absolutamente nada.
Abrigo de peixes, peixes desenhados e de cores quentes, e de cores frias, e dourados, paspalhos, intrigados e intrigantes, cardumes imensos exorbitantes. Água de beber do animal, da gente que é animal, mas a água que mata a fome, mata a sujeira cotidiana.
Arrebanha.
Gota por gota. Água por água. Calmaria espiritual e desejo profundo de vir a ser somente desejo, pois tudo leva, inclusive manchas do tempo. Dama inquieta de tantas vozes e tantas aparições, se aperfeiçoa, se afoga em seu ventre, se rememora de uma outra era.
Se vangloria por ser somente e simples, água.
Chuva de céu.
Goteirinha de campo.
Lágrima de chorar.
Rio de calmaria.
Mar de gente.
Oceano de imensidão inatingível.

Água de pura água.