quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Declaração Nua

Te amo.
Amo inevitavelmente que não posso deixar de amar
Eu te amo bruscamente
Como uma mão cheia que fere a face
Sangra, deixa cor, deixa marca em tempo
Amo irrevogavelmente
A medida em que descubro o que se chama amor
Uma palavra, uma miséria
O sagrado enigma
Amo em medidas não medíveis
Em espaços não voluntários
Amando na dramaturgia do sol
No calor de uma Lua nobre, conhecedora de nós
Eu te amo em palavras gritantes
Desde a rouquidão de minha voz ao contraste dos gritos incessantes de muitos que te amam
Eu te amo diferentemente de eles
Rabisco a frase
Redesenho
Reescrevo
Amo na distância do mapa de dois lugares incongruentes
Me vou em ideia nas bagagens das letras
A 7 passos voluntariamente transporto meu corpo a caminho de passos teus
Amo a ti sem pés, despidos das vestes do orgulho
Desde este poema aos arredores da minha breve loucura
Amo sem saber por compreender
Não sei se amo
Invada as substâncias
Desafie os átomos
Forje novas leis
Traga a resposta
Porém amo sem maiores segredos.

Pele Mofada

Falta-lhe o tempo
Falta-lhe a memória
Falta-me paciência
Falta-me futuro
Eram reis
Faltou o amor
Falou o amor
Vociferou o coração
Os reis em combate
Um remoendo
O outro enraizado.
A memória secretando o lugar, lugar onde um dia pôde sonhar
O coração fornecendo alimento
Recusa-se
Engasga
Absorve
Vomita
A memória ultrapassa o agora. 
Em sua carruagem o passado
Alguém bate a porta do peito
Não é quem se espera
Um vulto, o correio, quase o mundo inteiro
Mas não seu grande segredo.
Anos luz em passagem
No espelho a pele mofada
Uma  voz, a miragem.
Entorpeceu
Era um torpor
Vontade de almofada
Alguém passou
Levou o todo
Não restou o quase nada.